segunda-feira, 19 de abril de 2010

Lá na Casa Azul

Lá naquela terra vermelha do triângulo mineiro eu fui viajar.
Depois de muito chão, parei na Casa Azul pruma pinga tomar.
Comigo sentou um senhor de chapéu branco, e fomos a prosear.
Ele disse: "Seu moço, ali naquela curva não se pode aventurar...
Eita curva mardita, que com uma cruz gosta de se enfeitar!!
Nela o meu amigo Toim da Badia com a morte foi se encontrar.
Não há perda maior aqui para esse povo judiado do Cabaçar.
Ele vivia numa casinha de tábua debaixo de uns mangueirar.
No Campão, ele criava dos nelore com pasto verde e muito sar.
Teve junto com a sua esposa Zorinha cinco filhas para cuidar.
Seguuuura peão!! Todas as cinco são formosas e feitas para casar.
A alegria daquele homem era ter os netinhos por perto a brincar.
Para os vizinhos ele sempre dava uma abobrinha quando ia visitar.
Homem da terra e amigo das criaturas de Deus, era de se admirar.
Foi triste o funeral do Antônio, mas eu sei que com Deus ele foi morar.
Só me resta esse chapéu branco, que ele me pediu para guardar.
E as recordações de um homem bom e honesto desse pobre Tijucar.
Aooooooo seu moço forasteiro, eu te digo e não tenho medo de errar.
Só perdoa essa curva traiçoeira quem no coração tem gelo no lugar."
E foi essa história triste que o velho me contou com lágrimas no olhar.
Depois de tomar minha pinga, virei as costas para a conta eu pagar.
Quando fui me despedir daquele senhor, ele já havia se posto a andar.
Mas deixou o chapéu branco com a marca AV na aba em cima da mesa do bar.

Vitória Elisa da Silva

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