terça-feira, 20 de abril de 2010

Diálogos perdidos com doses de saudosismo

Voltando do cinema passei por uma mulher, um garotinho aparentando sete anos ou mais e uma pequena garotinha ensaiando aquele andar desequilibrado de uma criança correndo atrás de sua mãe.Como havera ficado pra trás sua mãe gritou:

_Ana Júlia!Corre senão cê vai fica sem leite de noite!

Apesar de achar engraçado fiquei com pena da garotinha.Na minha época ainda reinavam o bicho-papão, o homen do saco e outras figuras lendárias.
O que realmente me motivou a escrever sobre isso foi uma lembrança que me veio quase que instantaneamente.Por volta de meus sete anos, acredito, de férias na fazenda de meu pai; fomos à fazenda de um tio, irmão de meu pai, caminhávamos nas trilhas feitas pelo gado por entre os pastos e a pequena mata ali preservada .Era de tardezinha, mas o sol ainda não havera se escondido por entre as montanhas.Na trilha, eu a frente, meu pai, minha mãe e meus irmão em seguida.Quando em mais uma de suas brincadeiras atrapalhadas, papai manda mamãe se esconder atrás de uma árvore.Ao procurar por ela e não encontrá-la o indaguei mais que depressa:

_Cadê a mãe?
Ele respondeu:
_Cê ficou correndo na frente, o tamanduá pegou ela!

Sim, por mais estranho que isso pareça sempre tive medo de tamanduás e galinhas.O primeiro devido às suas garras e ao seu famoso abraço.A segunda ainda me causa certo estranhamento, mesmo depois de ter aprendido o porquê daquele andar tão excêntrico.Voltando ao caso, fiquei mudo; olhei pra todos os lados e por alguns segundos perdi meu chão.Não conseguia dizer uma palavra sequer, muito menos perguntar o motivo pelo qual estavam todos parados e impassíveis à situação.Nem no meu pior pesadelo conseguiria sentir aquilo novamente.Foi quando ela saltou de trás da árvore e aquele limbo no qual me encontrava se acabara e voltei à realidade.Uma mistura de alívio, alegria e revolta, em doses desproporcionais, me preencheu por inteiro e o mais estranho é que até hoje ao lembrar-me do ocorrido sinto a mesma alegria, alívio e revolta, em doses desproporcionais.Excetuando a revolta que fica para o papai, sempre que te vejo, mãe, é como se houvesse saído de trás daquela árvore, completando minha vida com todo o amor tímido que você me dedica e que me faz tão feliz!

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Lá na Casa Azul

Lá naquela terra vermelha do triângulo mineiro eu fui viajar.
Depois de muito chão, parei na Casa Azul pruma pinga tomar.
Comigo sentou um senhor de chapéu branco, e fomos a prosear.
Ele disse: "Seu moço, ali naquela curva não se pode aventurar...
Eita curva mardita, que com uma cruz gosta de se enfeitar!!
Nela o meu amigo Toim da Badia com a morte foi se encontrar.
Não há perda maior aqui para esse povo judiado do Cabaçar.
Ele vivia numa casinha de tábua debaixo de uns mangueirar.
No Campão, ele criava dos nelore com pasto verde e muito sar.
Teve junto com a sua esposa Zorinha cinco filhas para cuidar.
Seguuuura peão!! Todas as cinco são formosas e feitas para casar.
A alegria daquele homem era ter os netinhos por perto a brincar.
Para os vizinhos ele sempre dava uma abobrinha quando ia visitar.
Homem da terra e amigo das criaturas de Deus, era de se admirar.
Foi triste o funeral do Antônio, mas eu sei que com Deus ele foi morar.
Só me resta esse chapéu branco, que ele me pediu para guardar.
E as recordações de um homem bom e honesto desse pobre Tijucar.
Aooooooo seu moço forasteiro, eu te digo e não tenho medo de errar.
Só perdoa essa curva traiçoeira quem no coração tem gelo no lugar."
E foi essa história triste que o velho me contou com lágrimas no olhar.
Depois de tomar minha pinga, virei as costas para a conta eu pagar.
Quando fui me despedir daquele senhor, ele já havia se posto a andar.
Mas deixou o chapéu branco com a marca AV na aba em cima da mesa do bar.

Vitória Elisa da Silva

Bão ou não

"Veja seo moço nascemos no olho desse Brasilzão
ocê pode achar que eu sou um caipira sem instrução
mas o meu idioma é claro e sem enrolação
para mim ou ta certo ou não tem solução
Aqui comigo num tem frescura e nem depressão
tenho raiva de quem opina sem saber a razão
eu não choro pelos cantos por sofrer decepção
Aooooooooo Seo Moço!
Eu sei que é estudado e tem graduação
mas uma coisa eu te falo e presta a atenção
ocê pode girar o mundo conhecendo tudo quanto é nação
até a saudade apertar com aquele tristezão
E ai ocê vai sair disparado pegar o avião
pisar de volta nessa terra vermelha cheio de emoção
correr pros braços daquela morena morta de paixão
e assim o seo moço vai entender que a sua contentação
sempre esteve nesse pedacinho de terra chamado Sertão"


Escrito pela morena do Berabão,
a mais nova, significante e promissora união
daqueles que um dia rirão
de tudo que houve e haverá de bão!

Obrigado pela contribuição, Vitória Elisa da Silva!

Contracapa

A luz que ilumina
é a mesma que cega
por detrás da cortina
a sombra não nega

Que do lado oposto
mesmo o desgosto
se mostra proposto
a um novo rosto

A nova perspectiva
facilita a solução
eterna tentativa
de quem vive de ilusão

João Paulo Lemos Cardoso

Balanço

Nesse imenso mar
a dor desmedida
de uma grande ferida
que não quer se fechar

Do alto do andor
ampliado o olhar
mesmo na dor
ainda vejo o mar

A onda que veio
saberá voltar
e este grande devaneio
irá se findar

João Paulo Lemos Cardoso


Sempre fazendo coisas produtivas em aulas improdutivas!