quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Um Nascimento

Eu me rendi à minha curiosidade e dei uma chance ao Tropa!Não vou tecer mais críticas ao primeiro filme, pois sou fã do cinema brasileiro e Tropa de elite 1 é um filme pra ser esquecido.O seu sucesso nas bilheterias representa, a meu ver, um fracasso generalizado.A criação de um Rambo brasileiro e a violência gratuita, mesmo que verdadeira, não me surpreenderam.Mas vamos ao que interessa...
Tropa de Elite 2 – Agora o inimigo é outro, o pior nome possível pra um filme que beira algo digno de ser Cinema brasileiro.E este foi o primeiro preconceito a ser vencido por mim; a continuação de uma saga que eu detestei e que o nome sugere mais um clichê: colocar a culpa no Sistema!Muito fácil ,muito leviano; não era pra mim!
Ainda assim lá estava eu me surpreendendo a cada cena de uma trama mais complexa, com grandes atuações e uma crítica excepcional à sociedade brasileira.Dez anos se passaram e Nascimento(ou Rambo) descobre que “o buraco é bem mais embaixo!”.Um filme recheado de bordões e frases de impacto, mas que constrói muito bem essa faceta da democracia brasileira.
O filme começa In medias res, numa cena emocionante e, então, vem a narrativa de Nascimento e suas aventuras...Voice over, primeiro incômodo.Esse recurso é muito bem utilizado, além de ser uma das características mais marcantes dos dois filmes, porém fazem  do filme um pouco simples demais, na minha humilde opinião.Além do mais, o filme foi feito pra brasileiros, ou para grandes entendedores da realidade tupiniquim, o que fazem deste recurso um tanto quanto desnecessário por entregar o filme de uma forma muito direta.A utilização excessiva das palavras “mídia” e “sistema”, alvos primários da crítica do filme, empobrecem a narrativa, pois temos tendência a simplificar tudo.Por fim, o que detona com a possibilidade de maior aceitação do filme: Tropa de Elite 1!Mas, verdade seja dita, Tropa 1 se faz necessário para o entendimento da personagem principal e principalmente para mostrar a evolução da trama.
Superado tudo o que foi apontado anteriormente, desabafo: Tropa 2 foi um grande filme.Infelizmente incompreendido por muitos, mas um grande filme.A construção de dois paralelos antagônicos e a união dos mesmos através da parte emocional da estória revela, aos poucos, o alvo principal da crítica que a película nos trás.Tropa 1 transforma a classe média da nossa sociedade na grande vilã.Tropa 2 mostra que os culpados são ele, você e eu.A culpa é nossa.E mais, o filme escancara quando temos consciência disso.No início do filme, Nascimento diz: “Pode até parecer clichê de filme americano, mas é na hora da morte que a gente entende a vida” e é na hora que o problema torna-se pessoal que resolvemos encará-lo.
O agora tenente-coronel só mergulha na sua história e procura uma solução ao grandioso problema que o atormenta quando vê seu filho diretamente atingido por tudo aquilo que sempre combateu.E acredito ser esta a grande questão; o fato de ficarmos atados como meros expectadores do nosso futuro, o fato de só nos movermos quando nos convém.É preciso ter consciência de que a sua contribuição com o processo democrático vai muito além do seu voto.A mídia demonizada e o sistema sempre culpado são constituídos por nós; não podemos excluir a nossa participação.
Ao final do filme uma música do Legião Urbana me veio à cabeça e apesar de ainda não ter entendido muito bem o porquê, transcrevo-a aqui: “O sistema é mal, mas minha turma é legal//viver é foda, morrer é difícil//te ver é uma necessidade//vamos fazer um filme”.E o filme foi feito, um culpado foi encontrado.E agora?Vamos continuar sentados e esperar?

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